Cada vez mais a associação entre a formação cognitiva e a formação psicológica dos indivíduos vem sendo discutida e estudada por pesquisadores no mundo todo. Temas como inteligência emocional, hábitos da mente, soft skills, gerenciamento das emoções, e competências para o século XXI são sinônimos para competências socioemocionais, que correspondem a atitudes e habilidades essenciais ao desenvolvimento comportamental e relacional dos indivíduos.
No Brasil, esse tema ganhou força ao ser incorporado às orientações dedocumentos oficiais para a educação, os quais indicam que o ensino de qualidade deve formar o cidadão de maneira integral, isto é, para além da capacidade cognitiva, desenvolvendo habilidades psicológicas e competências emocionais, a fim de que os estudantes sejam bem sucedidos em todas as áreas da sua vida.
Nesse sentido, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) estabelece, além de aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo de cada ciclo da Educação Básica, as habilidades necessárias ao desenvolvimento de competências socioemocionais, o que implica diretamente na visão de uma formação global dos estudantes.
Ao tratar sobre o ensino das habilidades emocionais e sociais, a BNCC:
prevê que os estudantes desenvolvam competências e habilidades que lhes possibilitem mobilizar e articular conhecimentos desses componentes (de ensino) simultaneamente a dimensões socioemocionais, em situações de aprendizagem que lhes sejam significativas e relevantes para sua formação integral.(BRASIL, 2017, p. 483)
Na sala de aula, as competências socioemocionais se desenvolvem a partir de quatro dimensões: cognitiva, emocional, social e ética. Isso quer dizer que o estudante poderá desenvolver, entre outras, as capacidades de resolver problemas, estabelecer conclusões lógicas, planejar, tomar decisões (cognitivo); lidar com as emoções, exercitara autoconfiança, aprender com os erros, ter senso de responsabilidade (emocional); aprender a trabalhar em equipe, colaborar, comunicar-se com clareza e coerência, lidar com regras (social); tolerar e respeitar as diferenças, e agir positivamente para o bem comum (ética).
Na perspectiva do psicólogo e jornalista Daniel Goleman, as quatro competências gerais de inteligência emocional e social, que são autoconsciência, controle emocional, consciência social e gestão de relacionamentos, se desdobram em outras 12 competências específicas.
Essas competências indicam o caminho para o protagonismo estudantil, em que se espera o gerenciamento de habilidades pessoais e sociais para lidar com as próprias emoções, se relacionar com o outro, como diferente, de forma mais saudável, e se reinventar diante de variadas situações que a vida lhe impõe. Além disso, no âmbito escolar, espera-se o aumento do rendimento e a diminuição da indisciplina, aumentando as chances de sucesso na Educação Básica e no Ensino Superior, e de ter melhores oportunidades no mundo do trabalho.
Como funciona na prática?
Entende-se que a escola tem o potencial para transformar as características socioemocionais dos estudantes, e o professor tem um papel de fundamental importância nesse processo. É preciso inovar a atuação docente, indo além da exposição de conteúdos e cobrança de resultados nas avaliações, é preciso provocar reflexões, instigar o pensamento crítico e fazer com que os alunos aprendam a lidar com situações diversas e, sobretudo, a trabalhar em equipe.
O trabalho com as competências socioemocionais transforma a sala de aula em um laboratório de vida, em que as situações do cotidiano são usadas como ferramentas de aprendizagem. Nesse sentido, o professor pode, por exemplo, realizar jogos de raciocínio, propor situações que levem os alunos a organizar o pensamento, argumentar, expor sentimentos e planejar ações.
O professor deve se portar como mediador nesse processo, conduzindo os momentos com perguntas e intervenções bem planejadas e previamente elaboradas para atender as necessidades de cada turma.
Em uma atividade em que se propõe a realização de uma entrevista, por exemplo,na qual os entrevistados são questionados sobre momentos da vida em que sentiram medo ou ansiedade, o professor pode desenvolver o protagonismo juvenil, a empatia, a iniciativa social e a assertividade. Outra metodologia interessante é a da sala de aula invertida, que estimula as competências socioemocionais e a autonomiados alunos. Com uso de tecnologias digitais, por exemplo, o próprio aluno toma decisões sobre como, onde e como irá aprender, adquirindo mais conhecimentos e novas habilidades quando lhe for mais conveniente.
Trabalhar com as competência socioemocionais já não é uma questão de escolha, os documentos oficiais nacionais, a exemplo da BNCC, o mercado de trabalho, e as transformações que vêm ocorrendo nas relações sociais têm exigido essa mudança. Tudo isso em busca de um futuro melhor, em que os adultos sejam emocionalmente preparados para lidar com incertezas e planejar ações proativas. Assim, educação não é apenas ensinar conteúdos disciplinares, é educar para a vida, de forma integral.
Saiba mais!
Atividades socioemocionais para educadores (ebook), ToniaCosarin.
Inteligência Emocional (2011), DanielGoleman.
Paloma Lopes
Doutora em Letras pela UFPE, especialista em Inteligência Emocional e em Libras, é professora da Educação Básica e do Ensino Superior, escritora e palestrante. Confia no potencial da educação para o desenvolvimento intelectual e socioemocional do ser.