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Como estimular a leitura na era digital?

Como estimular a leitura na era digital?

            A competência leitora é de suma importância em nossa sociedade, tendo em vista que o que fazemos e compartilhamos no dia a dia perpassam as produções escritas. Por exemplo, registros de nascimento e casamento são documentos escritos. Os filmes e séries a que assistimos em plataformas streaming ou televisão apresentam legendas ou outros textos que precisamos ler. Nos comunicamos por meio da escrita em redes sociais. Acessamos informações em jornais e revistas on-line ao ler os textos publicados. Ou seja, pensamos, agimos e nos comunicamos por meio da leitura e da escrita.

Ilustração: Leitura na Era Digital.

            Buscando analisar a importância da leitura e da escrita em nossa sociedade, foi criado o termo letramento (ou literacia), que se refere, de maneira geral, às práticas de leitura e escrita demandadas para a resolução de diferentes necessidades da sociedade. Com o passar do tempo, foi inserido o termo letramentos, no plural, tendo em vista que as demandas de letramento são diversificadas: letramento visual, letramento digital, letramento familiar, entre outros. Hoje se fala também em multiletramentos para englobar a pluralidade de linguagens (advindas, sobretudo, das tecnologias digitais) e culturas com as quais interagimos na sociedade.

            Nesse contexto, insere-se também o letramento literário, considerando que a literatura ocupa um lugar único em relação à linguagem. De acordo com Souza e Cosson [1]:

[…] é importante compreender que o letramento literário é bem mais do que uma habilidade pronta e acabada de ler textos literários, pois requer uma atualização permanente do leitor em relação ao universo literário. Também não é apenas um saber que se adquire sobre a literatura ou os textos literários, mas sim uma experiência de dar sentido ao mundo por meio de palavras que falam de palavras, transcendendo os limites de tempo e espaço (SOUZA; COSSON, 2011).

            Assim, o letramento literário é uma prática que deve ser desenvolvida no âmbito escolar, visando à formação de leitores competentes. Mas, sem dúvida, propor atividades literárias entre jovens é um desafio para a educação atual, tendo em vista que os estudantes, nascidos imersos no mundo digital, costumam achar mais simples ler resumos ou resenhas, ver comentários de obras por meio de vídeos. Sem mencionar que essas leituras ou visualizações são impulsionadas por obras solicitadas em vestibulares. No entanto, há algumas práticas que podem auxiliar o professor na mediação da leitura literária, inclusive utilizando ferramentas tecnológicas, estimulando a leitura por prazer. Assim, tecnologia e literatura não precisam ser consideradas polos opostos, que se expelem.

  • Sugerir livros de fácil acesso e do interesse do público alvo

            O gosto pela leitura é algo construído com as vivências e o incentivo. O papel do professor mediador nesse processo é de fundamental importância. É interessante conversar com os estudantes, descobrir suas preferências e, mesmo aqueles que afirmam não gostar de ler, podem ser levados a mudar de opinião ao ler sobre um tema que gosta. Após conhecer melhor o perfil dos estudantes, há a necessidade de pesquisar diferentes obras o que, muitas vezes, o levará aos livros não cânones.

  • Aproveitar o que a tecnologia proporciona

            As tecnologias possibilitam inúmeras possibilidades, basta saber utilizar as ferramentas disponíveis. É interessante, por exemplo, criar e compartilhar pastas na nuvem com versões digitais dos livros preferidos dos estudantes e outras sugestões de obras literárias. Pode-se também construir, junto com a turma, uma página em rede social para compartilhar as sugestões de leitura por meio de vídeos, imagens, resenhas.

            Pode-se ainda relacionar as obras literárias a diferentes mídias. Por exemplo, que tal indicar um livro que serviu de base para o enredo de algum filme, série, música, fanfics, quadrinhos? Geralmente, os jovens costumam consumir essas mídias em momentos de lazer e, portanto, ficarão mais motivados para a leitura.

  • Indicar os benefícios da leitura

            Em meio à pressão causada pela rotina de estudos para o Enem ou outros vestibulares, é interessante mencionar aos estudantes que as obras literárias podem servir como uma válvula de escape, já queestudos indicam que a leitura reduz o estresse, e desenvolve a memória e a concentração. Além disso, ajuda no desenvolvimento da escrita, ao expandir o vocabulário, e incentiva o pensamento crítico, habilidade fundamental para a formação cidadã dos discentes. Ler é um ato que empodera, pois permite a posse do conhecimento e da conscientização.

  • Promover um diálogo literário (presencial ou on-line)

            As práticas de círculo de leitura são excelentes para estimular o debate em sala de aula, em que os estudantes compartilham impressões de leitura, falam sobre os autores, contextualizam o enredo, indicam a leitura da obra para colegas. Essa é uma atividade que também possibilita relacionar obras literárias às diferentes mídias.

            Oficinas de leitura também são práticas eficazes na formação leitora. Para sua execução, deve-se planejar o ensino de estratégias de leitura: ativação de conhecimentos que já possui sobre o que está sendo lido; relacionar conhecimentos com a temática do texto; inferir informações; criação de imagens mentais do que está sendo lido; realização de perguntas ao texto; seleção das partes principais do texto; sintetizar o que foi lido (o que inclui impressões pessoais).

Jéssica Tayrine

Doutora em Linguística pela UFPB. Atua como editora assistente e professora de Língua Portuguesa. Acredita que a educação é o principal caminho para transformar o que somos e o mundo em que vivemos.


[1] SOUZA; COSSON. Letramento literário: uma proposta para a sala de aula. Disponível em: http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40143. Acesso em: 13 ago. 2020.