Diante da multiplicidade de linguagens e plurilismo cultural com as quais convivemos na contemporaneidade, um mundo globalizado, estudiosos têm questionado o espaço que compete à escola para acolher as diversidades. Em 1991, o Grupo de Nova Londres, por meio do manifesto intitulado A Pedagogia dos Multiletramentos, foi pioneiro nas discussões acerca da necessidade em incluir os novos letramentos advindos, sobretudo, das novas tecnologias, e da variedade de culturas (já presente em sala de aula).
As discussões realizadas pelo grupo, formado por pesquisadores de diferentes países, culminaram no conceito multiletramentos, que se refere a dois tipos de multiplicidade presentes em nossa sociedade (principalmente urbanas): “a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela se informa e se comunica” (ROJO, 2012)[1].
Em tempos digitais, grande parte da população possui celular conectado à internet e a leitura dos textos que circulam no meio digital exige habilidade de navegação e de compreensão, de interação com hipertextos digitais e com textos multimodais. O leitor irá encontrar áudios, imagens, cores, fotografias, animações, banners, formatos diversos que devem ser processados e analisados, ignorados ou deixados para outro momento. Isso significa dizer que novos tempos demandam também um professor que, além de saber realizar essas leituras, trabalhe com os alunos estratégias leitoras a partir do que já sabem.
Esses novos leitores, estudantes do ensino básico, devem desenvolver habilidades para acessar inúmeros sites, blogs, propagandas, programas e aplicativos, de forma a cumprir seu objetivo, sendo necessário aprender como selecionar as informações pertinentes de um texto e separar o que é confiável do que não parece seguro. Portanto, precisam compreender o texto, analisando com profundidade e senso crítico as informações que encontram.
É reconhecível que explorar as múltiplas linguagens presentes nos textos e o aumento do acesso à informação desafia o sistema educacional, que precisa ser reconfigurado para atender novas demandas de trabalho com os textos. Em sala de aula, práticas pedagógicas devem ser planejadas a fim de incluir o trabalho com as diversas linguagens potencializadas pelas tecnologias digitais, além explorar as possibilidades de comunicação digital e das informações oferecidas por elas.
Para auxiliar essas novas práticas multiletradas, é indicado a produção de materiais mais próximos da prática e da realidade dos estudantes. Essa perspectiva implica repensar a informação de texto, trazendo para ela a noção de multimodalidade e trabalhando situações comunicativas variadas. Dessa forma, é essencial que o professor promova discussões sobre os textos (impressos e digitais) que são encontrados no cotidiano, observando elementos que os configuram, como cores, formatos, imagens, sons, intenções etc., e compreendendo que esses diferentes elementos convergem para a construção do sentido do texto.
O conceito de multiletramentos também é apresentado na BNCC para reafirmar a necessidade de incluir a leitura e a escrita de gêneros textuais digitais, além dos impressos e tradicionais, a cultura digital e a diversidade cultural no currículo escolar da educação básica. Assim, procura contemplar “o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis” (BRASIL, 2017)[2] ao longo das habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes.
Desenvolver projetos interdisciplinares é uma boa estratégia para contemplar habilidades de multiletramentos na escola. A seguir, algumas sugestões do que pode ser planejado para execução da proposta.
SAIBA MAIS
Jéssica Tayrine Doutora em Linguística pela UFPB. Atua como editora assistente e professora de Língua Portuguesa. Acredita que a educação é o principal caminho para transformar o que somos e o mundo em que vivemos.
[1] ROJO, R. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
[2] BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNC C_20dez_site.pdf. Acesso em: 22 de dezembro de 2019.