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Outubro Rosa: uma proposta de campanha educativa

Outubro Rosa: uma proposta de campanha educativa

          Em 1990, a Fundação Susan G. Komen for the Cure criou a campanha Outubro Rosa, a fim de conscientizar, prevenir e controlar a incidência do câncer de mama. Desde 2010, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) participa desse movimento internacional, buscando disseminar informações sobre a doença e garantir acesso a serviços de diagnóstico precoce. Tudo isso tem como intuito reduzir tanto os novos casos quanto a mortalidade decorrente do tipo de câncer que mais atinge mulheres no Brasil.

            Segundo o INCA, em 2020, mais de 66 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer de mama. Além disso, mais de 20 mil mulheres foram diagnosticadas com tumor no cólon e reto e quase 17 mil, no colo do útero. Os dados do Estudo Amazona, assinado por pesquisadores de 19 instituições, revelam um cenário ainda mais impactante: cerca de 70% dos casos são diagnosticados em estágios avançados.

            Entretanto, tal situação precisa ser discutida e enfrentada pelos diversos setores da sociedade. Não se deve naturalizar uma doença que tem grandes possibilidades de recuperação a partir de uma identificação precoce. Da mesma forma, não se pode encarar o Outubro Rosa como uma campanha comum e tradicional que se caracterizaria somente pela iluminação de prédios e monumentos e pelo uso da fitinha rosa no peito. É necessário irmos além. E a escola se constitui como um desses espaços de debate crítico, aprofundado e propositivo.

            Esta sequência didática visa à construção de uma campanha educativa em torno da prevenção e do combate aos tipos de câncer que mais atingem as mulheres no Brasil: o de mama, o de cólon e reto, e o de colo de útero. Encara-se, aqui, a campanha enquanto gênero textual. Segundo o linguista Luiz Antônio Marcuschi, os gêneros “são entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa […].Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas” (MARCUSCHI, 2003, p. 19).

            Assim, a partir do estímulo à produção de uma campanha educativa para veiculação concreta nas mídias sociais da escola ou em outro recurso digital escolhido pelo professor, os alunos assumem o papel de cidadãos que exercem habilidosamente o direito de atuar na sociedade através da linguagem, percebida, nesse contexto, como instrumento de comunicação e de interação. Tal processo encontra respaldo nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, que considera como usuário competente de língua natural aquele que, “ao produzir um discurso, conhecendo possibilidades que estão postas culturalmente, sabe selecionar o gênero no qual seu discurso se realizará escolhendo aquele que for apropriado a seus objetivos e à circunstância enunciativa em questão” (BRASIL, 1997, p. 65).

Objetivos:     

  • Compreender a estrutura e a função do gênero textual “campanha educativa”;
  • Debater sobre fatos e estatísticas relacionados à incidência do câncer de mama no Brasil;
  • Produzir uma campanha educativa consonante com o Outubro Rosa, a fim de veiculá-la nas redes sociais da escola.

Público-alvo:

1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio.

Áreas de conhecimento:      

Linguagens e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias.

Habilidades:

  • (EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na recepção, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor previsto, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.);
  • (EM13LP27) Engajar-se na busca de solução para problemas que envolvam a coletividade, denunciando o desrespeito a direitos, organizando e/ou participando de discussões, campanhas e debates, produzindo textos reivindicatórios, normativos, entre outras possibilidades, como forma de fomentar os princípios democráticos e uma atuação pautada pela ética da responsabilidade, pelo consumo consciente e pela consciência socioambiental;
  • (EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em processos de produção coletiva, colaborativa e projetos autorais em ambientes digitais;
  • (EM13CNT303) Interpretar textos de divulgação científica que tratem de temáticas das Ciências da Natureza, disponíveis em diferentes mídias, considerando a apresentação dos dados, tanto na forma de textos como em equações, gráficos e/ou tabelas, a consistência dos argumentos e a coerência das conclusões, visando construir estratégias de seleção de fontes confiáveis de informações.

Tempo estimado:     

5 a 6 aulas (de 50 minutos).

Recursos da aula:    

Computador e/ou smartphone; Google Meet ou outra plataforma de videoconferência; aplicativos de montagem e edição de imagens (Canva).

Etapas:

Preparação para o tema; Apresentação da situação; Produção inicial; Avaliação interativa; Produção final.

Preparação para o tema:

          Em aulas anteriores, solicite aos alunos uma pesquisa prévia sobre o câncer de mama. Oriente-os a fazer anotações, dentre outras questões, sobre as estatísticas da doença, as diferentes manifestações e estágios, os exames para diagnóstico, e os tratamentos oferecidos pelas redes pública e privada. Na próxima etapa, o encontro iniciará conforme a modalidade Aula Invertida, que consiste na participação ativa dos alunos na construção do conhecimento.

Apresentação da situação:  

– Para introduzir a aula, apresente o vídeo “Bruna Faleiros – A Descoberta do Câncer de Mama” (https://www.youtube.com/watch?v=JEJJaVNTkJY). Em seguida, dialogue com os alunos sobre a relação entre o depoimento pessoal de Bruna e os resultados que eles encontraram em suas pesquisas. Para fomentar a participação, realize os seguintes questionamentos: Quais as formas de identificar o câncer de mama? Quais as dificuldades que justificam o diagnóstico tardio da doença? Existem estereótipos em torno desse tipo de câncer? Nesse contexto, o que nós podemos fazer para ajudar na prevenção e no combate a essa enfermidade?

– Para exemplificar a importância da discussão em torno do tema, apresente parte do vídeo “Love by Grace – Lara Fabian.[Sol]” (https://www.youtube.com/watch?v=DE07CWzim18), que mostra a cena antológica da personagem Camila (Carolina Dieckmann), da novela Laços de Família, que convivia com a leucemia, tendo o cabelo raspado após sentir os efeitos da quimioterapia. Explique que a cena foi gravada para uma campanha de conscientização à doação de medula óssea. Na época, a média de cadastrados no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) saltou de vinte para novecentos por mês – um crescimento de 4.400%. O fato fez com que a Rede Globo ganhasse o BITC Awards for Excellence, o mais importante prêmio de responsabilidade social do mundo.

– Após a contextualização, aborde o gênero textual “campanha educativa”, explicando, através de exemplos, suas características estruturais e funcionais. É recomendável a escolha de peças publicitárias relacionadas ao Outubro Rosa, principalmente publicações de redes sociais, conforme a plataforma na qual os trabalhos dos alunos serão divulgados.

Produção inicial:      

– Explique aos alunos que eles produzirão uma campanha educativa no que concerne ao Outubro Rosa. Sugere-se que os grupos trabalhem com trilhas temáticas diversas que atendam ao tema geral (prevenção e combate ao câncer de mama, de cólon e reto e de colo de útero). Você pode utilizar as seguintes trilhas: 1) Diagnóstico precoce; 2) Estatísticas do Estado, do Brasil e do mundo; 3) Estudos e tratamentos atuais; 4) Histórias de convivência com o câncer; 5) Cuidados paliativos em doenças crônicas.

– Organize os alunos em “Estações Criativas”. Na modalidade on-line, eles podem se dividir em diferentes salas virtuais através de plataformas como o Google Meet. Peça os links de cada reunião, a fim de que você visite as Estações Criativas, fiscalizando o desempenho dos alunos e auxiliando-os em suas propostas.

– No período extraclasse, os alunos devem produzir as peças necessárias para a campanha educativa a partir de aplicativos com os quais eles já tenham afinidade ou de outros que você preferir. Sugere-se a plataforma on-line e intuitiva Canva (canva.com).

Avaliação interativa:

– Por meio de um encontro virtual, convide os alunos a apresentarem as produções de suas Estações Criativas. A partir das noções estruturais e funcionais do gênero textual “campanha educativa”, indague os estudantes sobre a adequação das peças publicitárias dos colegas ao gênero solicitado: A linguagem empregada nos textos persuade o interlocutor? As imagens e gráficos utilizados transmitem uma harmonização estética? As informações apresentadas são claras, objetivas, coerentes e coesas? Há presença de ambiguidades e figuras de linguagem produtivas ao discurso publicitário?

– A partir da avaliação interativa, sugira adaptações nas produções dos alunos. Recomenda-se que você escreva um parecer apontando orientações para a reformulação dos trabalhos e envie-o para cada Estação Criativa.

Produção final:        

– Os alunos devem produzir e apresentar suas peças finais à turma. Se possível, convide um(a) integrante da Coordenação Pedagógica ou da Gestão Escolar para participar desse momento. Se a escola contar com um setor de Comunicação, técnicos dessa área também podem ser convidados. Dessa forma, os estudantes se sentem estimulados a se empenhar mais na produção final e defender suas escolhas linguístico-gráficas, visto que seus trabalhos ganhariam uma dimensão social para além da acadêmica.

– A partir das sugestões dos profissionais participantes, as Estações Criativas têm uma última oportunidade de adaptar a campanha educativa e, por fim, enviá-la para a publicação nas redes sociais da escola ou em meios que o professor preferir.

– Questione os alunos sobre os aprendizados construídos em relação ao gênero textual “campanha educativa”, o trabalho em equipe e a temática do Outubro Rosa. Essa reflexão funciona como uma autoavaliação e contribui para a fixação dos conhecimentos mobilizados.

SAIBA MAIS!

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

Cuidados Paliativos e doenças crônicas: https://www.youtube.com/watch?v=XL25xUM4BlY.

Instituto Nacional do Câncer – Outubro Rosa: https://www.inca.gov.br/assuntos/outubro-rosa.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Ângela P.; MACHADO, Anna R.; BEZERRA, M.ª Auxiliadora (orgs.). Gêneros textuais & ensino. Ed. 2. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003, p. 19-36.

Por que mais de 70% dos casos de câncer de mama no Brasil são diagnosticados em estágio avançado: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49966596.

Douglas de Oliveira Domingos

Mestre em Linguística (UFPB) e graduado em Jornalismo (UFPB). É professor de Língua Portuguesa na SEECT-PB. Confia na linguagem como ferramenta de interpretação e transformação do mundo.