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Letramento Emocional para professores

Letramento Emocional para professores

         Nós, professores, temos passado por transformações abruptas durante esse momento de pandemia pela Covid-19. Essa crise tem nos ensinado não somente a conviver, mas a nos ressignificar diante das novas demandas e pressões impostas pela vida à nível pessoal, social e profissional. O importante, nesse momento, é não desistir!

         Especialmente os professores precisaram não somente se adequar ao home office, mas também a aprender a lidar com muitos outros componentes de trabalho que não utilizavam antes, a exemplo do trabalho remoto desempenhando em casa ou nas instituições de ensino, das aulas híbridas, em sistema de rodízio entre o online e o presencial –  e dos dois formatos acontecendo concomitantemente –, da elaboração e manejo de novas didáticas de ensino-aprendizagem, preparação de relatórios, entre outras. 

         Com isso, vieram também estresse, ansiedade, síndrome do pânico, depressão, hipertensão, gastrite, para citar alguns dos problemas de saúde mais comuns. Por isso, faz-se importante discutir um tema que envolve o gerenciamento das emoções no trato com todos os níveis de atuação pessoal, social e profissional: o Letramento Emocional.

         Letramento Emocional é um termo importante de ser desenvolvido e estimulado na atualidade, pois os impactos gerados a partir da pandemia têm levado a humanidade a trilhar novos rumos na dinâmica social. Para falar especificamente em docência, em conversas com colegas de profissão, por exemplo, percebi a real necessidade de discorrer sobre esse tema: alguns relataram desde altos níveis de estresse até necessidade de afastamento das atividades laborais, devido a problemas psicológicos decorrentes da sobrecarga de trabalho e da consequente ausência do gerenciamento dos sentimentos e emoções e do autoconhecimento.

         O termo “letramento” vem emprestado das teorias de aprendizagem, para indicar habilidade de realização de uma determinada atividade, incluindo o processo de aquisição de conhecimentos relacionados aos aspectos sócio-históricos que envolvem as práticas sociais. A analogia dos termos Letramento e Inteligência Emocional ao Letramento Emocional acontece por meio da ideia de que pode ser ensinado e praticado no cotidiano, e é uma ferramenta utilizada para monitorar e gerenciar individual e coletivamente as emoções e sentimentos que determinam nossas ações, a fim de utilizá-los para enriquecer nosso pensamento. 

         Lidar com as emoções é tão importante quanto alimentar a inteligência, por isso, é preciso desenvolvermos hábitos para capacitar nosso pensamento a compreender as emoções e saber expressá-las de maneira mais eficiente. Com isso não estou dizendo que devamos reprimir alguns sentimentos e exaltar somente os que consideramos positivos. Quero dizer que amor, ódio, angústia, felicidade, frustração etc., convivem e precisam ser sentidos, tendo em vista que fazem parte das nossas experiências. A diferença é que sentimentos que nos causam um estado de espírito negativo devem ser encarados como sabotadores por meio da compreensão e duas premissas:

  1. Nossa mente é nosso pior inimigo; ela abriga personagens que ativamente sabotam nossa felicidade e nosso sucesso. Esses Sabotadores podem ser facilmente identificados e enfraquecidos.
  2. Os “músculos” do cérebro que nos dão acesso à nossa grande sabedoria e discernimento ficam fracos depois de anos sem serem exercitados. Esses músculos cerebrais podem facilmente ser fortalecidos para nos darem maior acesso à nossa sabedoria mais profunda e poderes mentais inexplorados. (CHAMINE, 2012)

         Chamine é pontual ao indicar o exercício cotidiano dessas duas dinâmicas. Acompanhando esse raciocínio, seguem algumas das variadas sugestões indicadas para o aprendizado sobre a Inteligência Emocional:

  • Criar motivações para si próprio: sempre depois de uma elevada carga de trabalho, bonifique-se com um doce, uma comida que goste, um lazer, um entretenimento.
  • Persistir nos objetivos pessoais e sociais, apesar dos percalços: embora encontre muitas dificuldades, não desista de seus objetivos e metas.
  • Controlar impulsos e cultivar a paciência: exercite a ação de pensar nas circunstâncias e no outro antes de agir impulsivamente.
  • Manter um bom estado de espírito e impedir que a ansiedade atrapalhe a capacidade de raciocínio: procure se concentrar nas ações que precisa desenvolver, pensando nelas de maneira amistosa.
  • Ser empático e autoconfiante: tente ser confiar no seu potencial e aprenda a delegar funções aos que podem colaborar com as atividades do dia a dia. Mas, não esqueça de se colocar no lugar do outro em busca da identificação com ele.

          Utilizar a Inteligência Emocional de maneira consciente nos permite compreender que uma das razões para muitas de nossas tentativas de aumentar ou atingir o sucesso ou a felicidade resultarem em decepção é que nós nos sabotamos, para parafrasear Chamine (2012). Por isso, é aconselhável que nos permitamos a distração, o lazer e o descanso e abandonemos a estranha idealização da capacidade de executar multitarefas, que resulta em doenças. Saiba que seu raciocínio pode conduzi-lo a pensar que os caminhos mais difíceis podem te levar a grandes vitórias, ou convencer você de que trabalhar mais vai te permitir mais realizações. Mas, a verdade é que altos níveis de pressão e a sobrecarga podem ocasionar estresse, baixa produtividade e baixa autoestima, como consequência você poderá, na prática, produzir menos do que de costume.

         Alguns passos para iniciar o Letramento Emocional são o autoconhecimento e a organização dos sentimentos, que envolve o ato de conhecer as próprias emoções a fim de administrá-las, de reconhecer os sentimentos dos outros e de cultivar da Inteligência Emocional, que inclui além do autoconhecimento, a automotivação, o autocontrole, a persistência, a empatia e a gestão de relacionamentos.

          O exercício do Letramento Emocional contínuo traz benefícios como a possibilidade de identificar emoções e sentimentos a partir de estímulos e aprender a lidar com eles; proporciona o aumento da autoestima; permite o manejo da ansiedade e da fala interna, a fim de controlar seus sabotadores; indica o trabalho com os outros para reconhecer as mudanças comportamentais, emocionais e sociais; proporciona mudanças na cognição, que podem produzir melhoria no maneja das situações.

          Sendo assim, precisamos assumir uma curadoria afetiva, no sentido de criar e nos oferecer condições para ser e fazer cada dia melhor, sem renunciar à própria dignidade e almejando “acender uma vela ao invés de amaldiçoar a escuridão”, como disse William Watkinson.  A sabedoria é conquista com o tempo, diante das situações e circunstâncias que surgem, não nascemos sabendo, por isso, é sempre o momento certo para aprender um pouco mais: antes não conhecíamos tantos aplicativos para chamadas de vídeo, nem tantos recursos de ensino no meio digital, não sabíamos que era possível ministrar aulas remota e presencialmente ao mesmo tempo, que era difícil conviver tanto tempo com nós mesmos e com nossos familiares. Isso é aprendizagem! Estamos revalidando e legitimando nossos sentimentos, porque eles parecem estar mais evidentes agora.

          Estamos vivendo um momento de flexibilidade cognitiva, aprendendo a aprender e a nos ressignificar em meio ao caos, pois esses momentos difíceis definem muito do que somos. Desde que optamos pela docência, estamos habituados a buscar ensinar nossos conhecimentos aos nossos estudantes. Mas, não aprendemos, ainda, como lidar com as nossas próprias emoções. Na realidade, trata-se de uma aprendizagem contínua, que visa a nos encorajar e fortalecer o diálogo sobre os sentimentos e sobre como lidar com eles.

Saiba mais!

CHAMINE, Shirzad. Inteligência positiva. Rio de Janeiro. Fontanar, 2012.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. 20. ed. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 1995.

SOUSA, A. T. C; FREITAS, M. C. M. A. A interferência da inteligência emocional na práxis do professor. UniEVANGÉLICA, 2016.

Paloma Sabata Lopes da Silva

Doutora em Letras pela UFPE, especialista em Inteligência Emocional e em Libras, é professora da Educação Básica e do Ensino Superior, escritora e palestrante. Confia no potencial da educação para o desenvolvimento intelectual e socioemocional do ser.