A sustentabilidade é uma pauta que precisa estar em constante debate, já que tem relação direta com o impacto causado pelas sociedades contemporâneas no quadro socioambiental. Por esse motivo, toda a sociedade precisa assumir uma perspectiva mais consciente e isso demanda uma mudança de atitude direcionada a valores de sustentabilidade. Nesse contexto, a escola assume um importante papel, pois é o principal ambiente de criação e recriação de valores e atitudes de crianças e jovens.
Por ser abordada de maneira interdisciplinar, a sustentabilidade apresenta um conceito amplo que está sujeito a múltiplos enfoques. No entanto, todas as abordagens assumem que ações para o desenvolvimento sustentável envolvem um processo no qual as necessidades do ser humano, no presente, devem ser atendidas sem comprometer as necessidades das gerações futuras.
De acordo com Jacobi (2003)1, a problemática da sustentabilidade está relacionada a dimensões de desenvolvimento ecológico, social e econômico, e, por esse motivo, adquire a denominação desenvolvimento sustentável. Essa expressão foi inicialmente apresentada em 1972, por dois meios de divulgação. Em primeiro lugar, houve a publicação de Limites do crescimento em 1972, que partiu de discussões do Clube de Roma. Em segundo lugar, a Conferência de Estocolmo 1972, em que foi apresentada uma crítica ambiental ao estilo de vida contemporâneo.
Ainda segundo o mesmo autor, foi a partir de 1987, com o relatório Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Comission on Environment and Development), que a ideia do desenvolvimento sustentável passou a ser defendida. Esse documento apresenta um debate sobre as causas que originam os problemas socioeconômicos e ecológicos das sociedades atuais.
Em 1992, houve a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92, Eco 92 ou Cúpula da Terra), evento que buscou alertar o mundo sobre os problemas relacionados a questões ambientais e desenvolvimento sustentável. Nesse evento, 179 países assinaram a Agenda 21, que, mesmo recebendo críticas, foi um importante e abrangente avanço enquanto plano de ação para o desenvolvimento sustentável no século XXI. Outro documento importante surgido na Rio 92 foi o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que indicou um plano de ação para educadores ambientais.
1 JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de pesquisa, n. 118, 2003.
Na atualidade, está em vigor, desde setembro de 2015, a Agenda 20301, que aponta 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável. Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, que visa também fortalecer a paz universal e erradicar a pobreza em todas as suas formas e dimensões. Os 17 objetivos e as 169 metas, que envolvem os pilares econômico, social e ambiental, devem ser implementados pelos 193 países membros da ONU.
1 Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 25 maio 2020.
Tendo como lema “Ninguém pode ficar de fora”, os objetivos para o desenvolvimento sustentável são baseados em 5 pilares ou 5 áreas de importância para a humanidade e para o planeta (também conhecido como “5 P”): pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias.
No âmbito pedagógico, a Base Nacional Comum Curricular1 (BNCC) indica a relevância de trabalhar com temas que afetam a vida regional, local e global de maneira transversal e integradora, propondo a educação ambiental como um desses temas (Lei nº 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 e Resolução CNE/CP nº 2/20122). A sugestão é que a educação ambiental seja explorada, de maneira contextualizada, nos diferentes componentes curriculares, de acordo com as especificidades dos sistemas de ensino e escolas. A própria BNCC indica algumas habilidades, relacionadas à educação ambiental e sustentabilidade, que devem ser desenvolvidas pelos estudantes. Algumas são apresentadas a seguir:
Matemática (EF06MA32) – Interpretar e resolver situações que envolvam dados de pesquisas sobre contextos ambientais, sustentabilidade, trânsito, consumo responsável, entre outros, apresentadas pela mídia em tabelas e em diferentes tipos de gráficos e redigir textos escritos com o objetivo de sintetizar conclusões.
Ciências da Natureza (EF09CI13) – Propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da cidade ou da comunidade, com base na análise de ações de consumo consciente e de sustentabilidade bem-sucedidas.
História (EF02HI11) – Identificar impactos no ambiente causados pelas diferentes formas de trabalho existentes na comunidade em que vive.
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (EM13CHS301) – Problematizar hábitos e práticas individuais e coletivos de produção, reaproveitamento e descarte de resíduos em metrópoles, áreas urbanas e rurais, e comunidades com diferentes características socioeconômicas, e elaborar e/ou selecionar propostas de ação que promovam a sustentabilidade socioambiental, o combate à poluição sistêmica e o consumo responsável.
1 Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 27 maio 2020.
2 BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 28 de abril de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm. Acesso em: 27 maio 2020.
Na escola, algumas ações sustentáveis que podem ser propostas no processo de ensino e aprendizagem são:
Projetos relacionados à reciclagem e à reutilização de materiais reciclados.
Criação de horta orgânica que deve ser cuidada pelos próprios estudantes. Os vegetais colhidos podem fazer parte da merenda.
Programas que incentivem o plantio de árvores na escola/comunidade.
Incentivo ao uso racional de água e energia elétrica.
É válido ressaltar que a implementação dessas ações e projetos, para surtirem efeito, necessitam de planejamento. Outro ponto importante é que tais propostas não devem ser mencionadas apenas em datas comemorativas, mas sim de maneira constante para que atitudes sustentáveis se tornem um hábito.
Por fim, destacamos que o educador, enquanto mediador de conhecimento, é essencial para impulsionar uma educação que assume o compromisso com a formação de valores de sustentabilidade, centrada no conceito da natureza, fazendo com que os estudantes repensem as próprias práticas. A educação ambiental, de maneira desafiadora, é o caminho mais adequado para isso, pois fornece uma compreensão do meio ambiente local e global por meio da reflexão crítica dos problemas e dos possíveis caminhos a serem trilhados para a construção de uma sociedade mais sustentável.
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