A solução dos problemas sociais não se dá de forma linear e instantânea. Os imprevistos e as constantes mudanças provocam reações de desequilíbrio que exigem adaptações por parte das pessoas. Pensando nessa problemática, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC – indica que habilidades socioemocionais também devem ser desenvolvidas pelos estudantes e, partindo do pressuposto que a escola é um ambiente propício para a aprendizagem, exploradas no âmbito educacional. Entre essas habilidades está a resiliência, que tem um importante destaque por possibilitar o enfrentamento do estresse que, atualmente, ocorre principalmente devido às novas tecnologias digitais de informação e comunicação.
A palavra resiliência tem origem latina: resiliens significa saltar, voltar, ser impelido, recuar. Na Física, o termo resiliência significa a capacidade que um corpo tem para resistir a um choque. Na perspectiva da Psicologia, resiliar é recuperar-se depois de uma doença grave ou trauma; é resistir aos problemas da vida e depois conseguir superá-los para viver melhor. Além disso, é sentir-se, após enfrentar grandes problemas, mais fortalecido para encarar novos desafios.
No ser humano, a qualidade da resiliência envolve um processo de construção que se desenvolve ao longo do tempo e que depende da influência de três fatores: família, sociedade e educação.
Na educação, além da aprendizagem dos conteúdos advindos das diferentes áreas de conhecimento, há a necessidade de desenvolver a resiliência para que os estudantes alcancem a autonomia, a independência responsável e a capacidade de encontrar novas formas de resolver situações problema, criando uma espécie de controle na forma como devem agir frente às frustrações e superar os obstáculos.
Alguns estudos indicam que os principais fatores que tornam uma pessoa resiliente são o convívio social positivo, o bom desempenho escolar e o desafio intelectual. Assim, na escola, pode-se concluir que o professor favorece o desenvolvimento da resiliência por meio da ação pedagógica: são os adultos que apresentam o potencial de servir como referência para os estudantes. Para isso acontecer, o professor precisa ser, em maior ou menor grau, uma pessoa resiliente e o ambiente profissional, com auxílio da gestão e coordenação pedagógica, precisa favorecer os aspectos emocionais. Henderson e Milstein (2005) indicam seis passos que instigam a construção de características próprias de um docente resiliente:
(1) enriquecer os vínculos;
(2) determinar limites claros e fortes;
(3) ensinar habilidades para a vida;
(4) oferecer afeto e apoio;
(5) estabelecer e transmitir expectativas elevadas;
(6) proporcionar oportunidades de participação significativa.
Esses seis passos, juntos, tem como resultado, para alunos, pais, responsáveis e docentes, uma maior afeição à escola, um maior compromisso social e uma visão mais positiva de si mesmo (HENDERSON; MILSTEIN, 2005).
De maneira complementar, Wolin e Wolin (1993) apresentam sete passos para o desenvolvimento da resiliência:
Esses passos podem ser explorados em situações de interação, levando em consideração que administrar as emoções não é apenas responsabilidade individual de cada um, mas uma ação que pode ser desenvolvida coletivamente. Para os educadores, as reuniões pedagógicas são momentos propícios para isso ocorrer.
Em sala de aula, algumas atitudes favorecem o desenvolvimento da resiliência. É bastante interessante buscar direcionar estas práticas já no planejamento das aulas de cada componente curricular:
A exploração da resiliência na educação escolar ainda é uma tarefa de difícil execução devido a fatores políticos, culturais e sociais. Porém, é uma ação fundamental para o êxito de estudantes e professores, visto que a escola é um dos espaços promotores de resiliência mais potentes da sociedade, já que apresenta duas características importantes. Em primeiro ligar, porque une distintos sistemas humanos; em segundo lugar, porque o educador e o aluno interagem tendo como base uma perspectiva de desenvolvimento, de proteção. Assim, consideramos que, em um mundo com diferentes adversidades, a resiliência é a razão para se ter esperança (POLETTI; DOBBS, 2007, p. 17).
Referências
HENDERSON, N.; MILSTEIN, M. M. Cómo fortalecer la resiliencia en las escuelas.Buenos Aires: Paidós, 2005.
POLETTI R.; DOBBS, B. A resiliência: a arte de dar a volta por cima. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
TAVARES, J. A resiliência na sociedade emergente. In: TAVARES, J. (Org.) Resiliência e educação. São Paulo: Cortez, 2001.
WOLIN, S. J.; WOLIN, S. The resilient self: how survivors of troubled families rise above adversity. New York: Villard, 1993.