Escrevo este texto no dia 06 de agosto de 2020, sexto ano em que essa data é lembrada como o Dia Nacional dos Profissionais da Educação. Já aproveito para saudar todos os meus colegas de trabalho, os que conheço e os que não conheço; tal saudação se estende, portanto, àqueles que acreditam e que trabalham com a Educação, fazendo dela sua bandeira e seu sustento.
Saudações feitas, agora,é preciso irmos além. Primeiramente, de que forma esta data se tornou o Dia Nacional dos Profissionais da Educação? Ao levantarmos essa questão, devemos remontar à Lei de Diretrizes e Bases (LDB), “lei 9.394/96”. No dia 06 de agosto de 2009, a sanção da lei 12.014/2009 oficializou uma alteração na LDB que reconheceu como profissionais da educação os “professores habilitados em nível médio ou superior para a docência”, os “trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional” e os “trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim”. No dia 22 de dezembro de 2014, foi sancionada uma lei proposta pelo deputado Vicente Paulo da Silva (PT-SP) que determinava o dia 06 de agosto como aquele dedicado a esses profissionais.
A partir dessas informações, percebemos que a legislação deixa de fora outros profissionais que, em exercício ativo nas escolas, também promovem a Educação. Não quero levantar a discussão sobre a pertinência ou impertinência dessa categorização, que até me parece lógica, mas busco refletir sobre o papel educativo desempenhado pelos colaboradores da escola que não cursaram Licenciatura, Pedagogia ou afins. Desde que eu concluí o Ensino Médio, trabalho em escolas. Na primeira, fui secretário escolar; na segunda, assessor de comunicação; na terceira, sou professor. As frescas lembranças do meu cotidiano profissional levam-me a atestar que qualquer funcionário da escola, guardadas as devidas proporções em relação àqueles que estudaram conteúdos pedagógicos em sua formação, precisa exercer uma sensibilidade no que concerne à Educação, para além dos serviços práticos do dia a dia.
Nos discursos de gestores em eventos e reuniões, todos os colaboradores da escola eram chamados de educadores. O porteiro, a merendeira, a inspetora, o auxiliar de serviços gerais, a secretária, o recepcionista… Nas escolas pelas quais passei, todos precisavam ter o senso de que estavam em um ambiente escolar, interagindo direta ou indiretamente com crianças e adolescentes que observam e selecionam comportamentos de “figuras de autoridade”. Os jovens se espelham não somente em seus professores e diretores. Por vezes, eles têm mais contato com aqueles profissionais que estão nos corredores, garantindo, ao seu modo, que a escola não pare. Alguns estudantes sentem mais confiança em dialogar com os inspetores do que com os orientadores educacionais. Esse gesto não demonstra uma relação de superioridade, inferioridade ou equivalência entre as profissões. Mas ele deve ser explorado pela equipe pedagógica de uma maneira perspicaz.
Se a legislação não garante que todos os colaboradores da escola pertençam à categoria a que fazemos alusão no dia 06 de agosto, é necessário que nós, os ditos profissionais da Educação, consideremo-los também como educadores, apesar das diferentes atuações requeridas. O inspetor jamais deve substituir o orientador assim como o professor jamais deve substituir o psicólogo escolar. Entretanto, para que haja o firme alcance de objetivos pedagógicos no tocante à formação dos estudantes, deve existir um alinhamento das ações de todo o corpo colaborativo da escola. Se os pedagogos cursaram disciplinas específicas de Educação, eles podem compartilhar um pouco dos seus conhecimentos com os outros funcionários através da promoção de formações continuadas, a fim de favorecer um fluxo organizacional não só de empresa, mas principalmente de escola.
Para finalizar esta reflexão, acrescento um ponto que o(a) leitor(a) pode levar para suas rodas de conversa neste dia 06 e nos subsequentes. Inegavelmente, é uma conquista que professores e pedagogos sejam reconhecidos oficialmente como profissionais da Educação. Contudo, infelizmente, ainda assistimos a uma conjuntura de desvalorização dos processos educativos, das abordagens didáticas e das concepções pedagógicas que as gerações anteriores tanto se esforçaram para aprimorar e amadurecer. Isso se deve, por um lado, ao fato de a Educação ser uma área que traz resultados a longo prazo, o que contrasta com a expectativa imediatista da sociedade. Por outro lado, há uma classe economicamente poderosa que aposta na ignorância, na escassez de senso crítico das camadas populares como uma estratégia para mantê-las silenciadas e garantir a perenidade de seus próprios privilégios. De uma forma ou de outra, é nítido que, no momento atual, o ensino remoto ocasionado pela pandemia está demonstrando, para muitas famílias e estudantes,o valor e a necessidade dos educadores. Escrevo este texto na esperança de que as políticas públicas e privadas de valorização da educação continuem evoluindo em direção a um patamar no qual o reconhecimento oficial do dia 06 de agosto se estenderá por outros períodos do ano e por outros setores da sociedade.
Sugestão de leitura
Os desafios dos profissionais da Educação
Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/os-desafios-dos-profissionais-da-educacao/36662
Douglas de Oliveira Domingos
Mestre em Linguística (UFPB) e graduado em Jornalismo (UFPB). É professor de Língua Portuguesa na SEECT-PB. Confia na linguagem como ferramenta de interpretação e transformação do mundo.