Introdução
Considerando as novas demandas sociais por formação baseada em saberes práticos, notas altas tornaram-se insuficientes para garantir o sucesso profissional de qualquer aluno. Por isso, faz-se necessário que novas metodologias de ensino acompanhem as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) e adotem a união entre saberes práticos e saberes conceituais, mobilizando-os a partir das experiências dos discentes.
No que tange ao ensino de Matemática, especialmente ao tema da educação financeira, percebe-se que, na realidade, uma boa parcela de jovens possui cartão de crédito e/ou mesada antes mesmo de começarem a trabalhar e de concluir os estudos, mas com um agravante: a ausência de orientação sobre o uso do dinheiro, taxa de juro, aplicações etc.
Nesse sentido, é preciso considerar as mudanças radicais que estão acontecendo na sociedade e perceber que ocorre, cada vez mais, de maneira mais rápida e em proporções maiores do que as ocorridas nas décadas e séculos passados. Hoje, já não existe nenhum emprego garantido a alguém que tire boas notas na escola, a questão não é sobre ser o empregado ou o empregador, mas, como Robert Kiyosaki (2000) defende, é sobre ter controle no que se refere ao próprio destino ou delegá-lo a alguém. Na opinião dele, a formação oferecida pelo sistema educacional não prepara os jovens para o mundo que vão encontrar depois de formados. Não existe fórmula, mas uma visão global de que as mudanças excedem nossa realidade atual. Nesse caso, só existem duas opções: segurança ou independência financeira.
Sendo assim, faz-se necessário despertar nos adolescentes, jovens e adultos a necessidade de uma inteligência financeira:
A principal razão pela qual as pessoas têm problemas financeiros é que passaram anos na escola, mas não aprenderam nada sobre dinheiro. O resultado é que elas aprendem a trabalhar por dinheiro… mas nunca a fazê-lo trabalhar para elas. (KIYOSAKI, 2000)
A partir dessa perspectiva, a educação financeira desde seu princípio está relacionada com a matemática, pois não consiste apenas em aprender a cortar gastos, economizar, poupar e guardar dinheiro. Vai além de tudo isso, é uma busca por um consumo consciente, por uma melhor qualidade de vida, tanto no presente quanto no futuro, proporcionando segurança material e obtendo garantia para futuros imprevistos.
Um dos instrumentos utilizados na matemática financeira são os juros simples e os juros compostos, os quais abordamos nesta sequência didática. Para o cálculo dos juros simples a fórmula usada é:
M= C + J
M = montante final
C = capital
J = juros
A taxa percentual dos juros pode ser indicada ao ano (a.a) ou ao mês (a.m). Já nos juros compostos a fórmula é:
S = P (1 + i)n
S= montante
P = principal
i = taxa de juro
n = número de períodos que o principal P (capital inicial) foi aplicado.
Os juros simples são acréscimos somados ao capital inicial, e os juros são compostos são conhecidos como “juros sobre juros’’.
Esta sequência de aulas pode ser aplicada tanto de maneira remota quanto presencial, considerando a situação de isolamento social e os tempos de pandemia pela Covid-19.
Etapa de ensino: Ensino Médio, com foco no 1º ano
Tempo estimado: 5 a 6 aulas
Objetivos
Componentes curriculares contemplados
Competências e habilidades desenvolvidas (BNCC)
Procedimentos metodológicos
Apresentação da situação
– Realize encontros pedagógicos on-line (via meet, zoom, entre outras plataformas) para contextualizar o tema e instigar a mobilização dos conhecimentos prévios dos estudantes sobre suas experiências com matemática financeira.
– Contextualize o tema da aula questionando seus alunos: você costuma comprar por impulso, por necessidade ou para acompanhar a moda? Você costuma pesquisar os preços antes de comprar? Você geralmente compra à vista ou no cartão? Por que? Quando você vê uma oferta/promoção compra? Você sabe quanto gasta por mês? Discuta com a turma sobre essas questões e sobre as possíveis consequências da má gestão (ou mal uso) do dinheiro, do mal uso do cartão de crédito e afins.
– Permita que alguns dos alunos respondam oralmente ou pelo chat da plataforma on-line.
Etapa 1
– Exiba o vídeo “Eu vou levar’’, da série “Eu e meu dinheiro”, disponibilizado pelo banco central. Nele, aparecem dois jovens de condições socioeconômicas semelhantes e estratégias de compras diferentes. Vídeo disponível em: <https://youtu.be/FdTip4SdWMw>.
– Em seguida, promova uma discussão em torno do querer comprar e a necessidade de comprar, permitindo que os alunos exponham suas opiniões e digam com qual das personagens se identificam. Exiba também imagens de produtos em promoção, de consumidores adquirindo bens materiais, de propagandas, e estimule os alunos a comentarem sobre as emoções em relação à economia e ao consumismo.
Etapa 2
– Explique como são realizados os cálculos de juros simples e juros compostos a partir de exemplos.
– Apresente o problema a seguir e solicite aos alunos que solucionem no regime de juros simples: qual montante teremos em 5 meses se aplicarmos um capital inicial de r$ 4.000,00 a juros simples de 10% ao mês?
– Solicite dos alunos o mesmo cálculo no regime de juros compostos.
– Mostre a diferença dos resultados entre os juros simples e os juros compostos e onde eles estão aplicados no nosso dia a dia, nas variadas compras que realizamos.
– Solicite que os alunos calculem a taxa de juro de uma compra que já realizaram. Em seguida, questione se eles mudariam de estratégia ou permaneceriam com a mesma forma de compra.
– Promova uma discussão sobre a importância do estudo da matemática aliada à educação financeira, mostrando que na matemática os discentes são induzidos apenas a fazer a resolução de questões propostas utilizando fórmulas, sem nenhuma análise do resultado e nem questionarem as respostas. Já a educação financeira está relacionada ao uso consciente do dinheiro, às atitudes e emoções diante de situações de compra.
Etapa 3
– Faça um breve comentário sobre o conceito de conta poupança e mostre que é a ferramenta que maioria da população, cerca de 89%, conhece e faz o uso para economizar dinheiro.
– Mostre que o que leva os investidores a apostarem na conta poupança é a segurança financeira, porém a mesma segurança oferecida pela conta poupança é oferecida por outras aplicações financeiras bem mais rentáveis.
– Explique que a conta poupança apresenta sua rentabilidade mensal (a cada 30 dias), caso o investidor resgate (faça o saque) esse dinheiro antes dos 30 dias perde a rentabilidade, mais conhecida como aniversário da caderneta de poupança. A cada novo depósito é contada uma nova data de aniversário e, se não tiver cautela, em cada um desses depósitos realizados perderá a rentabilidade.
– Evidencie que o fator principal que leva os investidores a optarem pela conta poupança é a sua liquidez diária, ou seja, a qualquer momento o investidor poderá retirar seu dinheiro da conta, o que demostra a desvantagem, já que a rentabilidade não é diária.
Produção final
– Levando em consideração os conhecimentos construídos nas etapas anteriores, esta etapa é destinada à conclusão prática sobre o investimento com pouca rentabilidade que a conta poupança oferece.
– Proponha para os alunos:
Considere a seguinte situação: um investidor deposita em sua conta poupança a quantia de R$ 1000,00 durante um ano. A rentabilidade básica (Taxa Referencial – TR) será de 0%, que é a TR atual, e a rentabilidade adicional segundo a taxa atual da SELIC, que é de 6,5% a.a. No final desse ano, quanto o investidor conseguirá de rentabilidade? É vantajoso para o investidor?
– Mostre que o cálculo da rentabilidade é realizado da seguinte maneira: rentabilidade básica + rentabilidade adicional. A rentabilidade básica é mais conhecida como TR (Taxa Referencial), criada nos anos 90 durante o governo Collor II para combater a inflação, e hoje ela é utilizada como correção monetária da caderneta de poupança, do FGTS e de outros financiamentos imobiliários. Quem define a TR é o Banco central e o seu patamar mínimo é de 0%. A TR varia mensalmente, a partir daí as divergências de valores de rentabilidade da poupança. A rentabilidade adicional vai seguir a taxa SELIC, se a taxa SELIC estiver ≤ 8,5% a.a, a poupança vai render 70% da SELIC + TR. Se a taxa SELIC estiver > 8,5% a.a, a poupança vai ter o rendimento fixo de 0,5% a.m + TR.
– Comece a resolução considerando 70% de 6,5%, e que o investidor terá uma rentabilidade adicional de 4,55% a.a. Logo, para descobrir o rendimento do valor investido (R$ 1000,00) na poupança é só multiplicar R$ 1000 por 4,55%, chegando ao valor anual de R$ 45,50. Se o investidor quiser saber quanto lhe rendeu ao mês, é só dividir por 12. R$ 45,50 / 12 e descobrirá que seu rendimento mensal foi de R$ 3,79.
– Conclua reforçando que a poupança apresenta uma baixa rentabilidade se comparada a outras aplicações financeiras, a exemplo do Tesouro Direto, CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário), entre outras.
Avaliação
– Recomenda-se que a avaliação seja um processo contínuo realizado através de práticas de discussão e resolução das atividades solicitadas.
Materiais necessários
Papel, lápis, borracha, régua, computador, notebook, Datashow.
Sugestão de leitura:
KIYOSAKI, Robert. Pai rico, pai pobre: o que os ricos ensinam a seus filhos sobre dinheiro. Tradução de Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2000.